Triste sina ver-me assim
Que sorte vil, degradante
Ai que saudades eu sinto em mim
Do meu viver de estudante
Esse fogaz tempo de amor
Que de um rapaz era o melhor
Era audaz conquistador das raparigas
De capa ao léu cabeça ao ar
Só para amar vivia eu
sem me ralar e tudo mais eram cantigas.
Nenhuma delas me prendeu
Deixa-las eu era canja
Até ao dia em que me apareceu
Essa traidora de franja.
Sempre a tenir sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão
Botas a rir e um bengalão e ar descarado
A vadiar com outros mais
Para ir dançar para os arrais
Pra namorar beber folgar cantar o fado.
Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da Faculdade
E a mesa de anatomia.
Evoco em mim recordações
que não tem fim dessas lições
Frente ao jardim do velho campo de Santana
Aulas que eu dava e sem estudar
Só ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana.
O fado é toda a minha fé
Embala, encanta e enebria
Pois chega a ser bonito até
Na rádio-telefonia.
Quando é tocado com amor
bem afinado e a rigor
é belo fado ninguém há que lhe resista
É a canção mais popular
Tem emoção faz-nos vibrar
e eis a razão de eu ser doutor ser fadista.
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